Ageu Ramos compartilha seu aprendizado na construção civil

Ageu Ramos fala com exclusividade ao Galwan News. Entenda a importância da viabilidade econômica e como evitar o desperdício na obra

Publicado em 15 de outubro de 2025
Ageu Ramos
O palestrante Ageu Ramos entre José Luís Galvêas e Sancler Viana, sócios da construtora Galwan

Galwan News – Sua palestra realizada na Galwan foi muito prestigiada por empresários e executivos ligados ao mercado imobiliário do Espírito Santo. Fale um pouco sobre essa proximidade com o Estado e com a Galwan.

Ageu Ramos – Cheguei ao Espírito Santo em 1976, com a missão de abrir a Regional da Encol. Foram 10 anos intensos, em que nossa equipe construiu mais de 1 milhão de metros quadrados. Criamos os bairros de Serra Dourada, com 3 mil casas, e Valparaíso, com 1.500 unidades. Aquela experiência mostrou a força que o mercado imobiliário tem para moldar a cidade e transformar o cotidiano de milhares de famílias.

Voltar a Vitória sempre me traz memórias desse período de crescimento e de amizade com profissionais que admiro até hoje, como José Luís Galvêas e tantos outros: Aristóteles Passos Costa, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cebic), Alexandre Schubert, presidente da Ademi-ES e Rodrigo Scardua Gimenes, diretor do Sinduscon-ES.

– O senhor acompanha o mercado imobiliário em todo o Brasil. Cite um ponto forte e um desafio do mercado imobiliário do ES em comparação com o que é feito em outros estados.

– O Espírito Santo tem uma vocação turística inegável. Suas praias e regiões serranas atraem compradores de outros estados, especialmente Minas, Goiás e o Distrito Federal. Esse é um ponto forte que sustenta o mercado local. Por outro lado, dois desafios preocupam: a crescente escassez de mão de obra e a redução progressiva de recursos financeiros disponíveis para a produção imobiliária.

– A Galwan está há quase 40 anos construindo no modelo de incorporação por administração a preço de custo. O senhor encontra muitas construtoras trabalhando dessa forma no País? Quais são os maiores desafios de quem empreende nesse formato?

– Esse formato não é comum no Brasil, mas em Vitória encontrou terreno fértil. Funciona bem quando há confiança entre incorporadores e clientes. O desafio é justamente manter a imagem de seriedade junto aos clientes e assegurar que os recursos sejam aportados no prazo correto, para que as obras não sofram atrasos. É um modelo que exige disciplina e credibilidade.

– No seu livro “Incorporação Imobiliária – Roteiro para Avaliação de Projetos”, de 2002, o senhor já alertava sobre desperdícios de obra. De onde eles vêm?

– O desperdício nasce no projeto e se confirma na execução. Ele pode ser visível, como as caçambas de entulho que saem da obra todos os dias. Mas há também o desperdício invisível: projetos concebidos com áreas de lazer e serviços além do necessário. Por exemplo: para 100 vagas de garagem, são suficientes 2.500 m². Se o projeto entrega 3.000 m², são 500 m² desperdiçados. Isso não aparece nos olhos, mas pesa no bolso da empresa.

“Empresas quebram porque deixam de cuidar do fluxo de caixa.”

Ageu Ramos

– No bairro Bento Ferreira, em Vitória, existe até hoje um prédio inacabado da Encol. Qual a principal lição que o senhor aprendeu vivenciando o auge e a derrocada de uma gigante do mercado imobiliário, que chegou a ser considerada a maior da América Latina?

– O maior aprendizado foi compreender a importância do estudo de viabilidade econômica e financeira. O desenvolvimento de um empreendimento imobiliário dura de 5 a 10 anos. Nesse período, o mercado, a economia e a legislação mudam. Empresas quebram porque deixam de cuidar do fluxo de caixa. A viabilidade é a bússola: precisa ser revisada constantemente para ajustar custos e receitas. Essa lição moldou toda a minha trajetória posterior.

– O senhor fundou a Ediurb e hoje escreve livros, dá cursos, palestras e é consultor em diversos tipos de empreendimentos. Como consultor, o que o senhor mais identifica de equivocado nas incorporadoras e construtoras?

– Vejo pouca disposição para estudar em profundidade os aspectos técnicos, comerciais e jurídicos dos empreendimentos. Quando surge um problema, muitos preferem chamar um consultor, em vez de formar a equipe. O mercado é dinâmico como uma nuvem: muda a cada dia. Sem capacitação continuada, os riscos se multiplicam. Administrar empreendimentos exige disciplina de estudo e atualização permanente.

“Sem capacitação continuada, os riscos se multiplicam. Administrar empreendimentos exige disciplina de estudo e atualização permanente.”

Ageu Ramos

– Na sua avaliação, quais foram os três maiores elementos de transformação do mercado imobiliário brasileiro?

– No livro O que é incorporação Imobiliária, lançado esse mês, faço um retrospecto dos fatos que influenciaram fortemente a produção de unidades imobiliárias no Brasil. O primeiro foi a edição do Decreto nº 5.481, de 25 de junho de 1928, que regulou a propriedade em edifícios, contribuindo para aumentar os investimentos no mercado imobiliário.

O segundo foi a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões, que destinaram parte dos seus recursos para a produção de habitações. E o terceiro foi a edição da Lei nº 4.864, de 29 de dezembro de 1965, que criou as medidas de estímulo à construção civil, especialmente a criação do Banco Nacional da Habitação, e da Lei 4.591/64, denominada de Lei dos Condomínios e das Incorporações, que trouxeram muita vitalidade e segurança jurídica ao mercado imobiliário. 

– Com relação ao futuro, o que o senhor vislumbra para o papel do incorporador?

– O incorporador do futuro precisará ser um tradutor da tecnologia. A revolução digital já está transformando os métodos produtivos e, principalmente, os desejos dos clientes. Não há como resistir: é preciso se adaptar, antecipar mudanças e criar formas inovadoras de trabalho. O incorporador que se conectar à tecnologia, prosperará. Meu livro que será lançado, Eficiência e Eficácia – Uma abordagem conceitual e histórica, toca nas mudanças ocorridas lentamente nas sociedades em razão das inovações tecnológicas.



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